quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Amor nos tempos verbais de cada um – por Ronny Laeber


Não importa a palavra nessa corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde emerge a graça do amor, a cegueira da paixão. E o escuro onde nasce a solidão, a angústia, a saudade, a lágrima e o afago.
 Essa incompreensível forma que me sustenta o coração. Que nutre os sentidos e os sentimentos. Quem é que entende a linguagem surda-muda do coração, haverá de saber também, que amor é um verbo transitivo direto e que, a palavra, é disfarce da coisa mais grave que inventamos para ser calada em momento de grande prazer.
E sobre um mar, dicionário, gramática aplicada, quem frequentá-las, poderá apanhá-las, palavras, com a mão, um peixe vivo, por um susto terror e inconsciente.
 Esses tantos verbos, adjetivos, consoantes, construídas, constituídas, seguem deixando seu rastro por onde passam, seja nas nossas vidas, nossas vias, avenidas que vão ficando para trás. Nessa nossa vida, nos enlaçam, nos consomem e nos castigam. Agride-nos e nos dá carinho, nos amam e no deixa em desamor e enfim, por si só, perdidos num emaranhado de frases duvidosas quando o amor nos agarra de jeito e então, deixa a saudade brotar junto a tantas vírgulas e interrogações.
  E é perdido num livro que tento entender o que há com tantos corações agora. Posto que, sem amor, tudo é silêncio. Tudo são palavras silenciosas, palavras escritas, meramente escritas em caderno de caligrafia, vogal matinal, temática, que nos acorda e nos consola na correria cotidiana, pois estamos aprendendo a todo instante conviver com este sentimento composto ou mesmo o procurando.
No entanto, assim, não percebemos o tempo esvair-se, se conjugando, mas há tantos sentidos, há tantas formas, deste modo, ainda assim, estas palavras são poucas pra dizer o quanto somos gramática incompreensível.


Todavia, é notório de que precisamos de um céu pra voar, de ruas pra correr, de mares pra navegar, de que necessitamos de poesia pra viver, nessas horas fugidias em que nos encontramos nos braços de alguém ou simplesmente procuramos, em verso e prosa, em frase perfeita, onde nos achamos e nos perdemos, vivendo entre o certo e o duvidoso, buscando sempre a melhor coesão. E como já dizia na canção de Chico Buarque, “saiba que os poetas como os cegos podem ver na escuridão.” É como poetas ou como cegos que na escuridão seguimos vendo, revendo, inventando e reinventando, trazendo mais pra perto o amor no tempo verbal de cada um, em uma carta, um livro ou um cartão postal passamos estar em todas as classes gramaticais buscando um jeito de conquistar, de trazer, para uma conjugação, um verbo amor sem fim.