terça-feira, 26 de abril de 2016

Crônica: Tempo tempo tempo





Quer saber duma coisa: os desencontros são cruéis. Quer ser feliz? Encontre tempo para família, para os amigos, para aquela pessoa que conheceu ontem mas parece que é amigo de infância, para curtir o filho, o namorado, o marido, e todo mundo. Quer saber doutra coisa: quer ser feliz? Invista em você, trabalhe muito, estude muito, faça cursos de extensão, cuide da saúde; já foi para academia hoje? No final de semana tem que estudar para o concurso; e o novo idioma? Já está dominando? Não tem tempo? Arrume, dê um jeito, você é inteligente, cheio de vida. E a poupança? Está guardando dinheiro para o futuro? Que futuro? O seu, que será maravilhoso. Está sem tempo para conciliar amigos, trabalho, estudo? Tem que conseguir. Não quer ser feliz? E aquela colega do antigo trabalho que você adorava? Vocês ainda se falam? Tinham tanto em comum. E a sua melhor amiga? Já tem 2 meses que não se veem. E o seu marido? ele disse que você nem liga mais para o casamento. Ainda o ama? Ele está numa carência só, vai procurar outra, hein! O seu filho ficou doente, pode vir para casa? Ainda não? Mas, por quê? Tem muito trabalho ainda aí? Mas, seu filho. Deixa, vou dar um remédio aqui para passar a febre. Sua tese está pronta? E a planilha que tem que entregar para o financeiro amanhã, está ok? Ligou para sua mãe hoje? E a faculdade, quando termina? E aquele livro de poemas que ia fazer, ainda não terminou? Quer saber, não sabe lidar com tempo. Isso é falta de responsabilidade ou de competência? Tem gente que consegue fazer tudo e muito bem. Não acredita? Tem sim. É, talvez você tenha razão, o tempo e a vida são ingratos, conhecemos pessoas maravilhosas e não conseguimos vivê-las. Mas tudo bem, não precisamos ser capitalistas: menos trabalho, mais tempo para os amigos e família. E o aluguel, já pagou esse mês? Não estava no aniversário do Pedro. Fazia hora extra? Quer ser feliz? O que é ser feliz? É ter tudo isso, ora. Não acredita, o que pensa sobre a felicidade. Está cansado demais para responder? Acorda, já são seis da manhã: tem que ir para academia, trabalho, curso, faculdade. Não esqueça que amanhã é sábado e tem dois textos para entregar. É bom revisar bem, mandaram o revisor embora. Por que? Só sabia revisar. Domingo tem que terminar aquele livro. Tem que jantar com seu namorado, aniversário de namoro, lembra? Não dará tempo? Ah fique só 1 hora na companhia do seu amor. Durma cedo. Segunda, o despertador toca às 5h.


Renata Ferreira

segunda-feira, 25 de abril de 2016

PALAVRAS DE (DES)ORDEM/ POR JULIANA CARVALHO


19 não é 20


19 não é 20. E não é mesmo. O azeite está custando R$ 20, e levei para o mercado R$19. A inscrição para o concurso literário é R$40, para estudante universitário fica por R$ 20, juntando as moedas tem R$19,20. Manicure R$20, e só a mão hein. Melhor amolar o alicate e comprar uns esmaltes com os R$19. O site submarino tem livros na promoção. Qualquer um por R$19,99. É, não deu. 

Pois é, ter aquele diploma de universidade pública e o CR 9,9, não garante um bom emprego, às vezes nem um emprego. Ficar em primeiro lugar em todos os concursos de poesia na escola, não garante aquela publicação na editora que tanto almeja. Escrever bem nas redações escolares e na faculdade, não garante aquela coluna. 

É, a teoria não é a realidade. Sua geração não é a mais inteligente e com mais oportunidade. Seu orientador pode te desorientar. A saúde que sempre teve pode desmoronar.
É, você pode perder mesmo tendo tudo para ganhar. Você pode amar e não ser correspondido. Você pode ter filhos e não curtir ser mãe ou pai. Vestir-se em cores alegres, mas ser uma cor triste. Ser uma ótima advogada, lutar pelos direitos de todos, mas esquecer dos seus. Ou ainda ser uma ótima psicóloga, dar conselhos maravilhosos e não seguir nenhum. 

É, você pode ter mais de 20, e agir como uma criança de 10. E iss
o pode ser muito bom para algumas coisas e destruir outras em sua vida. Pois é, aquele relacionamento de 19 anos pode acabar antes de completar os 20.
É, nem tudo segue como planejamos. “É o rio da vida correndo”. Saber nadar pode impedir ou não um afogamento. Ás vezes, é preciso estender a mão e pedir ajuda.
Tem R$ 1 aí?


Renata Foli