terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Poetagem: O Retorno

O Retorno

Procurava o retorno.
Não encontrava suas raízes em nenhuma parte.
Tinha medo do “corpo a corpo com a vida”, do corpo a corpo com a realidade nua e crua.
A sensação era sempre a mesma, de angústia e de incompletude.
Descrevia sua vida como uma viagem circular. Nada mudou.
Estava desesperado com a impossibilidade de encontrar a felicidade.
Estava na fase de encontrar culpados: culpados pela sua tristeza, culpados pela sua falta de tempo, culpados pela sua falta de coragem, culpados pela sua melancolia. “Uma melancolia que não sai”.
Estava na fase de compreender: compreender por que seus valores e suas crenças, que antes eram tão sólidos, hoje, eram traduzidos por um sentimento: a inconsistência.
Queria o espaço confortável, queria fugir da “verdade”, não a aceitava.
Começava sua viagem pelo caminho das lembranças (das boas lembranças).
Um viajante contemporâneo, numa estrada sinuosa, mergulhado na ‘tragédia’ que definia como a tragédia da contemporaneidade.
Em cada época mascarou seus sintomas, mas nunca admitiu a Doença. 
A estrada das lembranças é mais dolorosa, mesmo quando boas. E, “sem conseguir encontrar dentro de si o ponto pior de sua doença, o ponto mais doente” , começou sua viagem sem volta.

Renata Foli

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