Começo com duas informações: 1- Ao fazermos leituras de imagens estamos sujeitos a erros. 2- E quando os personagens da imagem são a favela e seus moradores, então, o erro e os julgamentos são corriqueiros, virou praxe. Nesta exposição diária, temos uma quadro clássico, pincelado pela sociedade, com muitas mãos, porém gera a mesma experiência estética em todos que o observam (Melhor não generalizar né, quase todos).
A imagem clássica, noticiada pela mídia(Curadora da exposição) quando o assunto é favela: Corpos de homens pretos, que foram baleados em tiroteios. E, na maioria das vezes, a nota dada pela assessoria é: Traficante baleado ou morto em operação. Mesmo, quando há diversas pessoas que vão as ruas, explicando que o cara assassinado era morador, trabalhador…, ninguém acredita, e policiais insistem na nota: Traficante. Mas, pior que as notícias, são as pessoas, que não estão habituadas a procurar as informações, a avaliar as premissas, para chegarem à opiniões coerentes, independentes de classes sociais, e sem prejulgamentos. Afinal, nem todos entendem de “arte”. Assim, fica mais fácil acreditar na leitura tosca da mídia.
Ontem(22/03),
uma manifestação tomou as ruas de Copacabana. Que merda!! a princesinha do mar
ou coração da zona sul estava em chamas. Tão quente, quanto a cabeça dos
moradores do Pavão-pavãozinho. Os moradores protestavam a morte do dançarino Douglas
Rafael da Silva Pereira, conhecido como DG, de 26 anos. A comunidade e amigos
foram as ruas de Copa, acusando os policiais militares pela morte do rapaz, que
teria sido confundido com um traficante num confronto, no dia 21/03. Pelas
informações noticiadas, o caso foi registrado na 13ª DP (Ipanema), e as
circunstâncias da morte de Douglas estão sendo investigadas. As investigações
sobre a morte do rapaz continuam. E não tenho a pretensão, nesse momento, de
expressar a minha opinião. Vamos esperar os resultados. Dessa vez, não houve
pronunciamento da polícia, informando que DG era traficante. Isso para mim é
uma novidade. Já que esse é o caminho mais fácil, e esperado. Como o DG era um
preto “conhecido” talvez tenhamos uma “solução” para o inquérito.
Como disse no, início do texto, podemos
ler uma imagem de muitas formas, e erramos muito nas leituras (e sobre isso
quero falar). Aquela frase, bem conhecida: Uma imagem vale por mil palavras,
acho bem bizarra, e corrigiria para: Uma imagem sugere muitas interpretações, e
oitenta por cento estão erradas, ou foram manipuladas, principalmente se a imagem foi feita na
favela.
A imagem do dançarino morto, soma-se a outras imagens. Todas são
iguais, igualzinhas. Moradores mortos em confronto. Homem (preto) é morto, pois
foi confundido com bandido. Muitas são as sentenças, mas há uma que sempre “funciona”:
Pretos são iguais. Imagens de pretos sugerem a mesma significação,
principalmente se está caído e ensanguentado no chão da favela. Até quando? Até
quando a sociedade verá os pretos como iguais? Isso ocorre até nas “brincadeiras”.
“É seu irmão?”. “Não”. “São idênticos”. “Somos pretos”. “ Ah! então deve ser
isso”.
Até quando teremos pessoas fazendo esse
tipo de leitura?
Até quando guardará seus pertences,
quando um preto se aproximar?
Até quando fará esses julgamentos
imbecis?
Até quando acreditaremos apenas nas
imagens, e não correremos atrás das reais legendas?
#Pretoetudoigual
Renata Ferreira
Renata Ferreira
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