quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Alérgicos: Um sebo para chamar de seu.



Amar livros significa amar a casa deles, ou não. Dependendo do livro, você o encontrará numa grande ou pequena livraria, ou num sebo.  Num lugar limpinho ou empoeirado.  O fato é que os alérgicos, como eu, sofrem quando optam pelo sebo. Já desisti de entrar em muitos sebos, pois tinha tanta poeira e mau cheiro que meu espirro era despertado na entrada. Por que os sebos não se despem desse padrão?
Sei que há diversas lojas on-line, mas prefiro visitá-los em suas estantes, encontrá-los assim ao acaso, como um amigo que não via há muito tempo ou um novo amigo, que fazemos por essas estradas sinuosas.
Já tinha desistido dos sebos do centro da cidade do Rio de Janeiro, quando me deparei com o “Letra Viva”. Lugarzinho charmoso, limpinho, organizado, com um café ótimo (Caffè Olé) cuja  torta de maça é divina.


O “Letra Viva” fica situado num local(Rua Luís de Camões, nº 10) cujos prédios vizinhos são lindos, culturais e importantes, como: Real Gabinete Português de Leitura, o Centro Cultural Hélio Oiticica, IFICS, Largo das Artes...

O acervo é bem amplo. Aproveitei para comprar dois livros e uma revista:


vale à pena visitar. Segue algumas fotinhas para despertar curiosidade.





(site: Letra Viva)

Renata Ferreira

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Pais preguiçosos e hipócritas =Crianças prejudicadas



Trabalhando em biblioteca e livrarias pude perceber o quanto esses espaços não são explorados pelas famílias. Uma infinidade de livros, temáticas "empoeirados" nas estantes. Literatura, Economia, Política, Educação, Ética, Religião, Preconceito...São tantos os assuntos que poderiam ser discutidos após uma simples leitura que não caberiam nesse texto. 
 Além dos livros, uma série de atividades educacionais (teatro infantil, contação de histórias, atividades gratuitas) que poderiam ser descobertas e vividas, mas não há público. Onde estão esses pais e filhos? Eu respondo: Num sofá assistindo aquela novelinha, ou ainda, com a cara no celular ou computador.
Já ouvi muitos pais dizendo coisas do tipo: “Não estudei muito, logo não posso ajudá-los”. “Não tenho tempo, preciso trabalhar”.  “Ele é inteligente, se vira sozinho”. Sei que muitos desses pais são hipócritas, que só sabem reclamar e nada fazem para ajudar seus filhos, e a si próprio; fingem acreditar que a escola será o suficiente. Alguns desses pais pararam de estudar há anos, tiveram a oportunidade de voltar mas não quiseram; outros, se acham velhos demais. O fato é que reclamam, reclamam, reclamam, e não fazem nada para mudar a situação familiar.  Pais preguiçosos que não leem mas querem que o filho seja doutor (Não estou falando aqui de pessoas analfabetas, que não tiveram oportunidade nenhuma, e desejam coisas boas para os filhos; estou falando de hipocrisia. De pessoas que não fazem nada, não são exemplos para os filhos, e inventam qualquer desculpa esfarrapada para justificar sua situação).
Dia desses atendi uma pessoa que estava conhecendo a biblioteca pela primeira vez, inicialmente fiquei feliz, pois ela estava com os filhos. Logo, expliquei sobre os espaços infantis e infanto-juvenis, e sobre os diversos livros que os filhos e ela teriam acesso.  E ainda tinha teatro e filmes. Ela me cortou dizendo que estava lá, porque tinha internet liberada, e tanto os filhos quanto ela adoravam facebook. Expliquei que poderia acessar, mas seria perfeito se destinasse algumas horas para ler com os filhos e os incentivassem  à leitura. Ela disse: Eles nãos gostam, e eu também não.
Reclama-se tanto da realidade do nosso país: crianças e adolescentes que não leem; adultos que não tem senso crítico e são alienados; escolas que não formam pensadores e sim reprodutores de discursos etc. Eu vos pergunto:  O que você família, pais, tios, padrinhos estão fazendo para que suas crianças não se tornem adultos alienados, cegos, ignorantes e reprodutores de discursos?
Encontro muitos usando a desculpa que não possuem dinheiro, e por isso não compram livros e não incentivam à leitura, e completam dizendo que a escola faz isso. Acorde, não é novidade: Vivemos num país de injustiças, não há investimento no ensino público, muito menos nos professores. Não espere sentado no seu sofá, vendo sua novelinha preferida ou seu jogo de foot , que seu filho sairá da escola um gênio argumentador e empreendedor, Isso é para poucos. Se não tem dinheiro para comprar, vá até uma biblioteca pública. Você não precisa de grana para frequentar uma livraria. Há diversas livrarias com espaços infantis lindos, que aceitam sua visita; você poderá ir, sentar com seus filhos e ler um livro.
Então, acorde e aprenda a ser pai e mãe, aprenda a cuidar dos seus filhos. Cuidado não é apenas colocar comida no prato. Se não estudou, comece agora. Se não lê, comece. Largue sua TV e vá estudar com seu filho, aprenderá e relembrará muitas coisas. Incentive-os a fazer coisas boas e interessantes para a mente. Não adianta você deixa-lo jogar bola durante horas e horas se nem o exercício da escola ele faz. Admita:  você quer  descansar, e arruma qualquer atividade para seu filho fazer que o distraia, e não te perturbe.

Tome vergonha na cara, deixe a preguiça, e vá até escola do seu filho, compareça as reuniões, averigue o conteúdo que ele estuda; abra a mochila dele, e descubra o que está estudando, como o professor aborda o conteúdo, se não ficar satisfeito, reclame, ou melhor, ensine coisas novas. Se não sabe, procure alguém da família que saiba, um amigo... corra.... Tire seu bumbum do sofá, depois  não adianta reclamar. Fica a dica. 

Renata Ferreira

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

SUICÍDIO E MÍDIA: ROBIN WILLIAMS

O suicídio é um tema que desperta um misto de fascínio e terror, pois configura um enigma, um fenômeno incompreensível, por se tratar de agressão fatal ao próprio indivíduo. A aparente falta de sentido leva a reflexões diversas: sociológicas, psicológicas, filosóficas, religiosas, numa tentativa de compreensão, porém, ao mesmo tempo, se quer fugir do assunto tabu em nossa sociedade, o Vazio indiscernível em torno da morte obriga o pensamento a uma busca de sentido onde se esgotou o sentido:
Sem poder pensar na morte, parece que nos restam apenas duas soluções: ou bem pensar sobre a morte, em torno da morte, a propósito da morte, ou bem pensar em outra coisa que não a morte, e, por exemplo, a vida.  (JANKÉLÉVITCH: 1966, p.34)[1]

O suicídio tem um pequeno espaço na mídia, salvo os casos de pessoas que são “conhecidas” pela população, cuja notícia é inevitável. Neste caso, deveríamos ter a notícia desprovida de detalhes. A omissão dos detalhes evitaria a ocorrência de novos casos.
 Já foi comprovado que notícias veiculadas na mídia estimulariam pessoas depressivas a cometerem suicídio. O Dr. J. M. Bertolote, especialista em Distúrbios Mentais (Organização Mundial de Saúde) elaborou um documento preocupado com o grande número de suicídios motivados pela mídia, direcionado à todos os profissionais de comunicação.

A mídia possui um papel importante na sociedade contemporânea fornecendo uma vasta gama de informações de formas diversas. Influenciam fortemente as atitudes, crenças e comportamentos nas comunidades, e têm um papel importante na prática política, econômica e social. Devido a esta influência, a mídia pode também possuir um importante papel na prevenção do suicídio.[2]

              Com a morte de Robin Willians, averiguamos tudo que a mídia deveria evitar: uma enxurrada de reportagens sem cuidado, sem ética e sem respeito . Compreendemos a necessidade de informações quando morre alguém tão querido, como o ator. Mas, é bizarro perceber os rumos das informações, dos péssimos jornalistas e pseudo-jornalistas que temos, principalmente na internet.
               Não vi reportagens que aproveitassem a situação para esclarecer a população sobre algo, que segundo pesquisas, é atualmente uma das três principais causas de morte. Há tempos, o jornalismo perdeu sua função social, não deveria estar na cadeira de comunicação social. Hoje o objetivo é apenas entretenimento.

             Explorando a temática
Segundo Durkheim, no capítulo Do suicídio como fenômeno social em geral, temos que analisar a situação exterior em que se encontra colocado o agente. Os homens que se matam tanto podem ter sofrido desgostos familiares ou decepções de amor-próprio, como podem ter passado pela miséria ou pela doença etc. O autor afirma que os fatos mais diversos e mesmo os mais contraditórios da vida podem servir igualmente de pretexto para o suicídio.
 Na temática do suicídio Durkheim nos chama atenção para os seguintes fatores, primeiro, a natureza dos indivíduos que compõem a sociedade; segundo, a maneira como estão associados, ou seja, a natureza da organização social; terceiro, os acontecimentos passageiros que perturbam o funcionamento da vida coletiva. Portanto, só as características gerais da humanidade são suscetíveis de provocarem algum efeito. Para o autor há três tipos de suicida:
·         Suicida egoísta. A pessoa se mata para não sofrer mais;
·         Suicida altruísta. A pessoa se mata para não dar trabalho aos outros (geralmente pessoas de idade);
·         Suicida anômico. A pessoa se mata por causa dos desequilíbrios de ordem econômica e social.
             Não é minha intenção, fazer uma análise completa do livro ou citá-lo em detalhes, mas sim despertar o interesse nas pessoas que lessem meu modesto texto. Há milhares de pessoas depressivas ao nosso lado, seja parente ou amigo, colega de trabalho ou faculdade, que poderiam cometer suicídio a qualquer momento. É como poderíamos ajudar estas pessoas? Não sei. Mas se cada jornalista, blogueiro, artista ou não compreendesse a dimensão dessa causa morte, aproveitaria seu espaço nas mídias em geral, para produzirem textos que cumprissem melhor o papel social.

Dados para ir além (Texto abaixo foi retirado do site ABC da saúde, na seção psiquiatria):
SUICÍDIO: A palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines, em 1737 e significa morte intencional auto-inflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
De acordo com dados atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser prevista e evitada.
O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos. Ainda conforme informações da OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular nos países em desenvolvimento. Cada suicídio ou tentativa provoca uma devastação emocional entre parentes e amigos, causando um impacto que pode perdurar por muitos anos.
Probabilidades
Através da observação dos casos de suicídios, pode-se constatar que há certos fatores que estão relacionados a uma maior ou menor probabilidade de cometer o suicídio. Por exemplo, as mulheres tentam o suicídio 4 vezes mais que os homens, mas os homens o cometem (isto é, morrem devido a tentativa) 3 vezes mais do que as mulheres. Isso se explica pelo fato de os homens utilizarem métodos mais agressivos e potencialmente letais nas tentativas, tais como armas de fogo ou enforcamento, ao passo que as mulheres tentam suicídio com métodos menos agressivos e assim com maior chance de serem ineficazes, como tomar remédios ou venenos.
Doenças físicas, tais como câncer, epilepsia e AIDS ou doenças mentais, como alcoolismo, depressão e esquizofrenia, são fatores relacionados a taxas mais altas de suicídio. Além disso, uma pessoa que já tentou cometer o suicídio anteriormente tem maior risco de cometê-lo. A idade também está relacionada às taxas de suicídio, sendo que a maioria dos suicídios ocorre na faixa dos 15 aos 44 anos..
Motivos: As pessoas podem tentar ou cometer suicídio por diversos motivos.

·         numa tentativa de se livrarem de uma situação de extrema aflição, para a qual acham que não há solução;
·         por estarem num estado psicótico, isto é, fora da realidade;
·         por se acharem perseguidas, sem alternativa de fuga;
·         por se acharem deprimidas, achando que a vida não vale a pena;
·         por terem uma doença física incurável e se acharem desesperançados com sua situação;
·         por serem portadores de um transtorno de personalidade e atentarem contra a vida num impulso de raiva ou para chamar a atenção.
Indicadores de Risco
O suicídio é algo que, em geral não pode ser previsto, mas existem alguns sinais indicadores de risco, e eles são:
·         tentativa anterior ou fantasias de suicídio,
·         disponibilidade de meios para o suicídio,
·         ideias de suicídio abertamente faladas,
·         preparação de um testamento,
·         luto pela perda de alguém próximo,
·         história de suicídio na família,
·         pessimismo ou falta de esperança, entre outras.
Pessoas que apresentem tais indicadores devem ser observadas mais atentamente. Entretanto não se pode ter certeza alguma a respeito pois a ideia de morrer pode mudar na mente da pessoa, de um momento para outro.
Como encaminhar quem está com risco de suicídio
Quando a preocupação a respeito de um risco de suicídio ocorrer em relação a uma pessoa, esta deve ser encaminhada a uma avaliação psiquiátrica, em emergências de hospitais que trabalhem com psiquiatria, para que se possa avaliar adequadamente o risco e oferecer um tratamento para essa pessoa.
Esse tratamento poderá ser uma internação, quando for avaliado que o risco é muito grave, ou tratamento ambulatorial (consultas regulares com psiquiatra), ocasião em que é feita uma avaliação das circunstâncias da vida da pessoa, se ela tem uma família que possa estar presente, observando-a e fornecendo-lhe suporte, e à qual, ela própria, apesar da vontade de se matar, possa comunicar isso e pedir ajuda antes de cometer o ato.
Quando alguém estiver pensando em cometer suicídio é importante comunicar essa ideia para que outros possam ajudá-lo, pois quem está se sentindo tão mal a ponto de pensar que a morte é sua única saída, com certeza precisará de ajuda para sair dessa.

Renata Ferreira

           

Bibliografia
DURKHEIM, Émile. O suicídio. Os pensadores: Abril cultural
JANKELEVICH, Jan. La Mort. Paris:Flamarion, 1966.
http://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/suicidio





[1] Faute de penser la mort, il ne nous reste, semble-t-il que deux solutions: ou bien penser sur la mort, autour de la mort, à propos de la mort, ou bien penser à láutre chose qu´à la mort, et par exemple à l avie”

[2] Informação retirada do artigo : O suicídio motivado pela  mídia, publicado no site : http://manassesqueiroz.blogspot.com/2005/12/o-suicdio-motivado-pela-mdia.html

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Eu, um poema inacabado.



Eu, um poema inacabado.
                                      Dum poeta esquizofrênico                                      
Quero ser lido por você

Eu, um poema indefinível
Com letra borrada e tremida
Quero ser entendido por você

Eu, que não tenho época nem estilo
Rima ou destino
Quero ser musicado por você

 Eu, exilado noutra língua
Com erros de ortografia
Quero ser traduzido por você

Indefinir para alcançar
Indefinido sou
Resta-me num papel esperar.

a melodia, a música,  a voz
sua (re) leitura...

Renata Foli

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Minhas impressões: Banksy – Guerra e Spray


  "Não dá para superar esse sentimento "

A leitura de imagens sempre me agradou; não tenho conhecimentos teóricos sobre arte pictórica, mas acredito que a experiência estética vai muito além de qualquer teoria. Poder olhar para uma imagem e perceber as diversas sensações, significações e rumos que ela pode tomar e nos proporcionar , fascina-me.
Confesso que as leituras mais formais como cores, formas etc; ou ainda temática, é o que menos importa para mim. O que me encanta é a relação que posso ter com a obra, as minhas reações, o que a obra me faz sentir; a relação com o meu mundo, com minhas experiências, com minhas conexões. E nessa leitura, a pessoal, que indico, o livro “BANKSY – GUERRA E SPRAY”.
O livro foi publicado, aqui no Brasil, pela editora Intrínseca, em 2012.  Sabemos que os livros de arte são praticamente inacessíveis; as publicações são apreciadas por um pequeno grupo, como: estudante de arte e professores; artistas; bibliófilos, ou seja, um grupo reduzido. Os preços são exorbitantes, afastando alguns leitores. Acredito que a editora Intrínseca teve como objetivo introduzir o público a obra de Banksy, proporcionando a oportunidade de termos um livro riquíssimo e acessível.

FICHA TÉCNICA
  • ISBN: 978-85-8057-258-2
  • Tradução: Rogério Durst
  • Lançamento: 2012-10-20
  • Páginas: 240
  • Formato: 21 x 26
  • Gênero: Séries

Sinopse: Ninguém sabe quem é Banksy, o artista do estêncil e do spray que tem deixado a marca de sua irreverência em paredes de cidades do mundo inteiro, de Londres à Palestina. Sabe-se apenas que teria nascido em Bristol, no sul da Inglaterra, onde iniciou suas atividades. A obra de Banksy, porém, é inconfundível: ratos de guarda-chuva, macacos ameaçando dominar o mundo, inusitados sinais de trânsito e comentários mordazes sobre a sociedade contemporânea, o consumismo, as guerras e o conformismo. Sua arte em grafite ganhou fãs em toda parte, é amplamente reproduzida pela internet e já foi vendida por mais de 50 mil libras em leilões. Guerra e spray reúne o melhor de seus trabalhos e expõe alguns de seus pensamentos nas palavras do próprio Banksy. Além das obras criadas para as ruas, o livro inclui também intervenções que o artista fez em locais privados, como museus de Nova York e o zoológico de Barcelona.

Minhas impressões: Dos muros para o papel.
O grafite é uma manifestação artística. Com sua linguagem de protesto e de resistência tornou-se universal.  Conquistou diversos espaços: Dos muros para os livros; da roda de grafiteiros para a roda acadêmica, do preconceito para aceitação e respeito. Em Banksy – Guerra e Spray nos deparamos com uma variedade de imagens que revelam-se como personagens marcantes, associadas a críticas inesquecíveis.
Nos grafites e performances do artista tudo adquire alma, e é registrado de forma singular: o cenário urbano ou rural; os museus ou zoológicos; os macacos e os ratos ... Tudo possui uma alma questionadora e nos provoca. Banksy imprime em sua obra um toque inconfundível. Temos 240 páginas entre imagens e textos singulares.
Segundo Banksy, ao contrário do que dizem por aí, o grafite não é a mais baixa forma de arte. Grafitar é, na verdade, uma das mais honestas formas de arte disponíveis. Não existe estilismo ou badalação, o grafite fica exposto nos melhores muros e paredes que a cidade tem a oferecer e ninguém fica de fora por causa do preço do ingresso. Para o artista, quem desfigura nossos bairros são as empresas que rabiscam slogans gigantes em prédios e ônibus tentando fazer que nos sintamos inadequados se não comprarmos seus produtos. Essas empresas acreditam ter o direito de gritar sua mensagem na cara de todo o mundo, sem que ninguém tenha o direito de resposta. O artista finaliza o texto, dizendo que as empresas começaram a briga e a parede é a arma escolhida para revidar.
O artista é bem irônico e sarcástico; há muitas críticas ácidas no livro, mas citarei três que aprecio bastante, e que se repetem . A primeira é contra policias e seu autoritarismo. Segundo o artista, Policiais e seguranças usam quepes com abas sobre os olhos por motivos psicológicos. Aparentemente, sobrancelhas são muito expressivas e cobri-las torna sua aparência mais autoritária. Em compensação, é mais difícil para os agentes da lei perceber qualquer coisa que aconteça a mais de dois metros acima do solo, o que torna bem mais fácil grafitar telhados e pontes.
A segunda são pinturas vandalizadas. Numa série de obras conhecidas, Banksy brinca com releituras.
“Se você quer sobreviver como grafiteiro num ambiente fechado, me parece que sua única opção é pintar sobre coisas que não lhe pertençam”.

Na releitura de Girassóis, Van gogh, temos “Girassóis do posto de gasolina”. 
Já em Le pont de Giverny, Claude Monet, temos “Me mostre o monet”.
A terceira crítica que me toca é a da fome, pobreza e capitalismo. Em “Burger King”, por exemplo, temos uma criança com a coroa da rede fast-food com um prato de comida vazio.

 Outra obra polêmica, nessa temática, é a montagem com a foto de Kim Phuc, nessa a criança está de mãos dadas a Mickey e Ronald Mc Donalds. Poderia ficar horas citando as imagens do livro, mas convido-os a terem a sua experiência com Bansky.


Renata Ferreira