segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Drummond: o soluço de vida que rebenta de cada verso é imortal



No dia 17 de agosto de 1987, há 28 anos, a luz se apagou para o poeta do Sentimento do Mundo,  Rosa do povo, do Claro Enigma... O poeta cujos poemas transitam no tempo.
Nunca esqueceremos  Carlos. O soluço de vida que rebenta de cada verso é imortal.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em 31 de outubro de 1902, em Itabira Minas Gerais, cidade que influenciou sua obra. Seus primeiros trabalhos foram publicados no Diário de Minas. O poeta não demorou para se impor no cenário da poesia brasileira, da melhor poesia. Também foi cronista, jornalista e funcionário público.
O poema No meio do Caminho, tão conhecido, foi publicado em 1928 na Revista de Antropofagia. Em 1930 publicou o seu primeiro livro Alguma poesia, que marca o início da segunda fase do Modernismo brasileiro. O poema de abertura desse livro é Poema de sete faces, cujo eu-lírico manifesta a insatisfação com um mundo onde a desesperança sufoca. Podemos lê-lo como autobiográfico, talvez Carlos quisesse ter um retrato cuja imagem fosse desenhada em versos. Tudo indica que sim.      
 
“Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida...”


Esse poema teve “filhos”, "filhos" nascidos da intertextualidade, “filhos” nascidos também pelo amor a Drummond, cada “filho” com sua singularidade.  Torquato neto escreveu LET'S PLAY THAT, musicado por Jards Macalé;

Quando eu nasci
um anjo louco muito louco
veio ler a minha mão
não era um anjo barroco
era um anjo muito louco, torto
com asas de avião

eis que esse anjo me disse
apertando minha mão
com um sorriso entre dentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes
vai bicho desafinar
o coro dos contentes

Já Chico Buarque escreveu Até o fim
                   
“Quando nasci veio um anjo safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava predestinado
A ser errado assim
Já de saída a minha estrada entortou
Mas vou até o fim...”

Em Adelia Prado temos o poema Com licença poética

“Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada...”

O próprio Poema de sete faces apresenta intertextualidade com um versículo bíblico. (Evangelho de Mateus, capítulo 27, versículo 46).

“...o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”

Drummond não escondeu sua desilusão com o mundo, um mundo que causava mal-estar, encontramos dentre as diversas temáticas: o retrato do cotidiano, os problemas sociais e políticos ,não só mundiais como os brasileiros.

A poesia de Drummond foi dividida em quatros fases. A primeira, conhecida como Gauche, é a fase da reflexão existencial, do isolamento, do individualismo. A segunda fase é a social, nesta o poeta escreveu Sentimento do Mundo(1940), José (1942) e Rosa do Povo(1945). Temos um Drummond mais participativo, o isolamento da primeira fase é substituído pelo grito que ecoa a problemática do mundo.
 A terceira fase é dividida em dois momentos, Dummond percorria novos caminhos, o da poesia filosófica e o da poesia nominal. A quarta fase (década de 70, 80), a última, é uma fase mais memorialística (Infância, família) e temas universais também são retomados. 
Para finalizar a singela homenagem,  segue um dos mais belos poemas do poeta.



Sentimento do Mundo
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer

mais noite que a noite.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Acreditava que não sofria preconceito racial


                                                                                     "Preta, Preta, Pretinha!"
Quando crescemos a cruel realidade bate à retina e nos deparamos com um mundo violento, da segregação racial, de pessoas preconceituosas e de muitos discursos e situações chocantes; tudo tão desumano que o olhar de uma criança não alcança.
O preconceito racial, por exemplo, temática desse texto, era algo “distante" da minha realidade, algo que eu não acreditava sofrer [mesmo sendo negra e morando numa comunidade].
Cheguei a ouvir na infância alguns depoimentos que me deixavam triste, de alguns coleguinhas de classe, mas me pareciam distantes. Não compreendia a dimensão e gravidade da questão, aquilo nunca fora assunto conversado por professores ou familiares. Achava que era uma brincadeira de mau gosto, mas brincadeira.  Pensava: não sofro isso, uma pena eles sofrerem. Isso era o máximo de reflexão. Afinal, minha ingenuidade não captava a questão, não captava o que era o preconceito racial, muito mesmo o preconceito velado
Assim, acreditava viver num país das maravilhas no que concerne o racismo e exclusão.
O fato é que agora consigo enxergar a ignorância, preconceito e a face por trás do véu de muitas pessoas. E, hoje, sem a ingenuidade da infância e adolescência posso unir todas as frases ouvidas e montar um grande quebra cabeça chamado racismo. E para completar as peças, posso somar as frases que ouço na fase adulta.
Cresci numa família onde a maioria são brancos e me tratavam assim também. Ops: Primeiro preconceito. Ao falarem mal dos cabelos das “negrinhas” da rua, na minha frente, diziam que o meu era bom. Eu não falava, mas pensava: o meu é igual.
Quanto a cor, era mais bizarro ainda, eu nunca fui negra, era a moreninha do cabelo enrolado (Com o pai negro e mãe branca, eu nasci um pouco mais clara, o que para eles era o suficiente para eu não ser negra).
 Eu não sabia que tudo isso era preconceito velado, conforme fui crescendo comecei a questionar, e diziam: “não somos preconceituosos, “gostamos dos pretos” e há pretos na família”, “já namorei preto”. É, agora entendo como são ou eram ignorantes. Poderiam ter ou não a noção disso, mas não deixavam de ser.
Uma prima começou a namorar com um negro, e mesmo havendo negros na família, ela ouviu: pense nos seus filhos como terá trabalho para pentear os cabelos dessas crianças. Na hora eu questionei o horror da frase, mas sabe como é, adultos tem sempre razão.
Chegou um momento que eu não aceitava ser considerada a moreninha, eu sou negra. Mas, o mais intrigante que não era algo apenas do núcleo familiar, percebi que as pessoas não sabiam o que era ser negro, e se sabiam, achavam que era ofensa. Debati infinitas vezes com pessoas que negavam a minha cor, e quando eu afirmava, pedindo para me encararem, diziam que eu queria assunto, pois não era negra. Alguns tiveram a petulância de mostrar pessoas consideradas negras, ou seja, tem que ser “tição” e você não é.
Poderia ficar horas aqui escrevendo as frases, mas quero acreditar que vocês não precisam de muitas descrições para perceberem o que é preconceito velado, principalmente o praticado por familiares.
Adulta, percebo que o preconceito racial está por toda a parte, velado ou não precisamos identificá-lo, não importa se é membro da família, amigo, ou alguém que acabamos de conhecer, conscientizar essas pessoas que acreditam não serem preconceituosas é primordial na luta contra o racismo.
Muitas das vezes é só ignorância, é cegueira, e precisamos fazê-las enxergar o quão idiota é esse discurso, antes que isso se impregne e torne algo consciente. Precisamos repreender as atitudes racistas com mais empenho e voracidade.
 Acredito que todos são capazes de educar, principalmente em questões sociais, raciais, humanas, etc.  Não dá para esperar que a escola faça isso, ou pais sem noção, que criam filhos preconceituosos, incapazes de respeitar o próximo.
No primeiro dia numa universidade pública, numa reunião de boas-vindas com os veteranos. Escutei de uma mulher branca, moradora da zona sul do Rio a seguinte frase: VOCÊ MORA NA BAIXADA, EM DUQUE DE CAXIAS, NÃO PARECE. SÉRIO, NÃO PARECE, É INTELIGENTE.
Contexto: aquela mulher branca numa faculdade de humanas, conversava comigo sobre literatura, música; o papo rico ia muito bem, até eu falar de onde vinha. Com muita calma, eu a enxerguei como uma criança que precisava ser educada, e a disse: Na Baixada Fluminense há pessoas maravilhosas, inteligentes, e que são capazes de fazer parte daquele lugar, tanto quanto a mocinha preconceituosa. Sim, o discurso é preconceituoso. Disse também, que como alguém que é da área de humanas, HUMANAS, pode falar daquele jeito. Expliquei o que era segregação racial. Enfim, encerramos a conversa e ela com olhos arregalados me pediu desculpas e disse que não teve a intenção. Expliquei que o preconceito muita das vezes está em pessoas que “não tem a intenção”.
Outra situação, mais atual: ouvi de um familiar de alguém que amo muito o seguinte: você é pretinha mas é muito bonita. Agora, imaginem a situação, a mulher que me disse isso é negra, negra com todos os traços. Mas, adivinhem não se considera negra. E por mais que eu tenha explicado mil vezes o que era racismo, racismo velado etc, os neurônios da pessoa não alcançaram a mensagem, e não viu nada de ofensivo na frase. E disse, que eu estava exagerando.
Em que mundo esses hipócritas vivem, respondam?  Porque eu tenho muita dificuldade de entender: É “burrice” mesmo? porque não é só ignorância. Quando alguém te explica algo importante e você continua ignorando...O  que devo pensar de você?
Por fim, acho que há casos que não tem jeito, o indivíduo é preconceituoso mesmo e ponto; não usa máscaras, e é tudo muito explícito, precisam pagar pelo crime de racismo. Mas como sou uma pessoa otimista e muito observadora, sei que há casos de preconceito velado que não passa de ignorância, o indivíduo cresceu ouvindo isso e reproduz, como uma criança, nesses casos devemos tentar usar o poder da educação. Analisar o contexto da frase e a pessoa; o cara é racista mesmo? Ou teve uma atitude racista? precisa de ajuda para entender sobre o assunto? Posso ajudá-lo? Posso tentar explicar o que é racismo, velado ou não?
Acredito que podemos fazer muita coisa, o que não podemos é ficar de braços cruzados, apenas apontando o preconceito. Conscientizar essas pessoas que acreditam não ser preconceituosas é primordial para  melhoramos a situação dos negros, principalmente os que ainda não sabem dos seus direitos, os que aceitam calados.
 Quando o indivíduo entender de fato, ele refletirá e assim poderá identificar outros discursos racistas e ajudar outras pessoas a compreenderem. Não custa tentar.
E para finalizar o singelo texto, segue um diálogo no banheiro de uma grande empresa. Onde todas as pessoas deveriam informar e refletir sobre questões sociais e raciais; onde a maioria é formado em comunicação social.
Situação: Mulher negra (Eu) diante do espelho, passando silicone nas pontas dos cachinhos. Naquele dia meu cabelo estava maravilhosamente lindo :-)
Mulher branca: Deve ser difícil cuidar disso tudo, neh? Pentear ?
Eu: Não
Mulher branca: Como você faz, lava todos os dias?
Eu: Como você faz com o seu?
Mulher branca: Lavo duas vezes por semana
Eu: Então, eu lavo três
Mulher branca: Sério?
Eu: Sim
Mulher branca: Tenho uma vizinha que a filha tem o cabelo assim, ela reclama muito, dói o braço para pentear, ela diz que é um sofrimento, e é horrível. Acho que vai cortar.
Eu: Diz a sua vizinha, que a filha dela tem cabelo, logo precisa ser lavado, condicionado, hidratado como o seu ou de qualquer outra pessoa. Se não há cuidados básicos, obviamente, qualquer cabelo ficará um pouco ou mais embolado.
Mulher branca: olhos arregalados
Eu: uma pena quando o preconceito vem da própria família, e as crianças crescem achando que ter o cabelo crespo é ruim. Tristíssimo uma mãe tão ignorante como essa.
Mulher branca: Ainda bem que eu não sou preconceituosa.
Eu. OK, boa tarde.




quinta-feira, 30 de julho de 2015

Impressões sobre o livro " O segredo do meu marido"

“Imagine que seu marido tenha lhe escrito uma carta que deve ser aberta apenas quando ele morrer; imagine também que essa carta revela seu pior e mais profundo segredo — algo com o potencial de destruir não apenas a vida que vocês construíram juntos, mas também a de outras pessoas”.


 Sinopse:
Cecilia é um exemplo para a vizinhança: tem uma vida confortável, mantém um casamento estável com John-Paul e é mãe de três meninas. Sua vida segue tão dentro dos trilhos que ela até se pergunta como seria se houvesse uma pitada de emoção em sua rotina extremamente planejada. Mas, quando encontra uma carta de seu marido endereçada a ela no sótão de casa, o primeiro dilema se estabelece e Cecilia cogita se deve ou não investigar o conteúdo de algo que foi escrito à época do nascimento de sua primeira filha. Ela coloca sua curiosidade à prova e avalia se o segredo representa algum tipo de impacto em sua família. O comportamento de John-Paul, que em alguns momentos sugere haver algo errado, contribui para suas dúvidas. Ele pede para que a carta seja deixada de lado, afirma que não há nada de interessante em um bilhete escrito tanto tempo antes, sob a forte emoção de ser pai pela primeira vez, e assegura que tudo não passou de um ímpeto da juventude. Mas Cecilia não se convence tão fácil. Quando o segredo é finalmente revelado, ela vai perceber que se trata de algo que pode destruir bem mais que apenas seu casamento.


Impressões:  
Liane Moriarty, em o Segredo do meu marido, narra a história de diversos personagens que ao que tudo indica não possuem nenhuma ligação; suas rotinas chegam a ter um continente a separá-las, porém uma carta escrita para que fosse aberta apenas após a morte do remetente, muda a vida de todos. A informação carrega o elo.  
 A autora inicia o livro com a apresentação de Cecília Fitzpatrick, uma mulher extremamente dedicada à família. Uma esposa maravilhosa, que cuida muito bem das filhas, do marido, da casa e da vida profissional. Tudo segue em plena ordem.
No segundo capítulo conhecemos Tess, uma mulher que vê sua vida perder o rumo; desnorteada com novos acontecimentos que a remetem ao seu mais triste e antigo trauma.
Após, aparece Rachel, mãe de Rob e avó de Jacob, tem uma grande perda que pesa em seu peito, mas consegue ser feliz, tanto quanto pode ser.... Porém irá descobrir a fragilidade de sua felicidade com a notícia de uma nova perda.
A escrita Liane Moriarty é simples e fluida, mas rica no que concerne a construção dos personagens e a forma pela qual eles crescem e aparecem no texto; preenchendo-os com tanta vida e caminhos que dificultam ainda mais a previsão do leitor.
O elo entre eles parece não existir, mas pouco a pouco Moriarty vai desenredando o fio que liga os seus personagens e constrói uma imensa colcha. Unida por muitos pontos.
Um pensamento: cada decisão que tomamos muda não só com o nosso destino, mas com o curso de muitas outras vidas; por mais que o acaso tente mostrar toda a conexão que nos cerca continuamos acreditando que a roda-viva segue girando desconexa, e as linhas do nosso fado enredam cada vez mais neste jogo de azar.
O azar de um é sempre a sorte do outro e por pouco muito nos acontece, tão rápido, tão ironicamente previsível, que sua percepção se faz desacreditada.
 A colcha costurada por Moriarty é feita de muitos sentimentos e pessoas; conexões; amores e desamores; momentos tristes e felizes; famílias e destinos.
A carta aberta...
“A caixa de Pandora ao ser aberta espalhou todos os males pelo mundo, mas preservou-se em seu fundo a esperança”


Editora Intrínseca
  •          Tradução: Rachel Agavino
  •          Páginas: 368
  •          Gênero: Ficção
  •          Formato: 16 X 23


                                                                                                  Colaborou  Jeferson Mello

domingo, 19 de julho de 2015

Semanário da Sétima Arte

Wild” , Woody Allen – Um Documentário”, “Coco Avant Chanel”, “Yves Saint-Laurent” e “Candy”.


Salut!
Esse semestre resolvi fazer um pequeno catálogo de filmes que assisti. Adoro guardar ingressos de cinema ou anotar os nomes de filmes que vi em casa, mas sempre os perco. Assim, usarei o espaço do blog para registrar semanalmente os filmes, suas respectivas sinopses, um singelo comentário e o trailer. Quando houver tempo, uma resenha.
Voilà!

Wild
Sinopse:  Após a morte de sua mãe, um divórcio e uma fase de autodestruição repleta de heroína, Cheryl Strayed (Reese Witherspoon) decide mudar e investir em uma nova vida junto à natureza selvagem. Para tanto, ela se aventura em uma trilha de 1100 milhas pela costa do oceano Pacífico.

Impressões: Esse filme, dirigido por Jean-Marc Vallée,  me fez recordar  outro inesquecível “A natureza selvagem”. Ambos são filmes biográficos e dramáticos.
Em  “A natureza selvagem”, Christopher McCandless (Emile Hirsch) é um jovem recém-formado, que decide viajar sem rumo pelos Estados Unidos em busca da liberdade, após dois anos na estrada, Christopher decide fazer a maior das viagens e partir rumo ao Alasca, e não volta mais.
Em “Wild”, temos um filme baseado na vida de Cheryl Strayed , interpretada por Reese Witherspoon , uma  mulher que decidiu fazer uma trilha 1100 milhas pela costa do oceano Pacífico, que inclui toda a costa oeste dos Estados Unidos, da fronteira com o México até o Canadá, conhecida como "Pacific Crest Trail". Cheryl não tinha nenhuma pratica com trilhas ou esporte, mas tomou essa decisão após sua vida mudar drasticamente.
Com a morte da mãe, Cherly fica depressiva e passa consumir drogas pesadas; trai o marido com diversos homens e não aguenta quando ele pede o divórcio. Com a necessidade de liberta-se dessa fase que quase a levou à morte, e em busca de autoconhecimento,  a mulher se aventura numa longa caminhada cuja companhia é seus pensamentos, seus tristes pensamentos. “Wild” é baseado no livro "Livre - A jornada de uma mulher em busca do recomeço". O que mais me chamou atenção no filme foram os flashes memorialísticos de Cherly , que vêm à tona durante toda a caminhada. Uma vida marcada por traumas desde a infãncia, quando seu pai, um alcoólatra, agredia a mãe e abandonou a família. 
Duração: 1h56min


Woody Allen – Um Documentário
Sinopse: documentário sobre Woody Allen aborda vários momentos da carreira do cineasta e conta com depoimentos de importantes nomes da sétima arte. Antonio Banderas, Josh Brolin, Penélope Cruz, John Cusack, Larry David e Scarlett Johansson são alguns dos nomes que dão entrevistas falando sobre Allen.
Impressões: Adorei o documentário dirigido por Robert B. Weide.  Apesar de gostar muito dos filmes do Woody e dos diálogos, que considero geniais, não conhecia a biografia. Há diversos momentos da carreira dele que descobri vendo o documentário biográfico. O cara é de fato surpreendente e admirável. O filme foi lançado neste mês (julho), mas foi exibido no Festival de Cannes 2012 (ano de produção). Assisti no Cine Estação (Botafogo). Duração: 1h53min.



Coco Avant Chanel
Sinopse: Quando criança Gabrielle (Audrey Tautou) é deixada, junto com a irmã Adrienne (Marie Gillain), em um orfanato. Ao crescer ela divide seu tempo como cantora de cabaré e costureira, fazendo bainha nos fundos da alfaiataria de uma pequena cidade. Até que ela recebe o apoio de Étienne Balsan (Benoît Poelvoorde), que passa a ser seu protetor. Recusando-se a ser a esposa de alguém, até mesmo de seu amado Arthur Capel (Alessandro Nivola), ela revoluciona a moda ao passar a se vestir costumeiramente com as roupas de homem, abolindo os espartilhos e adereços exagerados típicos da época.
Impressões:  O filme narra a história da Gabrielle Bonheur Chanel, antes de se tornar a grande estilista, conhecida como Coco Chanel.  Audrey Tautou, uma das minhas atrizes preferidas, interpreta Chanel na fase adulta. A produção é boa, mas eu esperava mais. O filme é de 2009 e tem 110 minutos. Para quem curte o mundo da moda e a biografia de grandes estilistas é uma boa dica. 


Yves Saint-Laurent

Sinopse: Paris, 1957. Com apenas 21 anos, Yves Saint-Laurent (Pierre Niney) é chamado para cuidar do futuro da prestigiosa grife de alta costura fundada por Christian Dior - falecido recentemente. Depois de seu primeiro desfile triunfal, ele vai conhecer Pierre Bergé (Guillaume Gallienne) e este encontro irá abalar sua vida. Amantes e parceiros de trabalho, os dois se associam a fim de criar a grife Yves Saint Laurent. Apesar de suas obsessões e demônios interiores, Saint Laurent vai revolucionar o mundo da moda com sua abordagem moderna.
Impressões: Gostei do filme e adorei o ator que interpreta o Yves Saint-Laurent, Pierre Niney . O longa não seria bom sem a excelente atuação e entrega de Niney.
Assim como o Coco avant Chanel, o filme biográfico é bem interessante para os amantes da moda e interessados pela vida e trajetória de estilistas famosos. Yves era muito jovem quando deixou seu país ( Argélia) para se dedicar à Moda em Paris. Com a morte de Dior, assumiu a grife,  mesmo com toda a sua timidez e dificuldade de se expressar. Em “Yves Saint-Laurent” temos a síntese da vida do estilista , pouco fala-se na obra.  O filme narra um Laurent extremamente perfeccionista e depressivo; um homem que abusava das drogas para fugir da realidade ou para liberta-se de um passado e pessoas que o oprimiam. O longa também conta a história de amor vivida por Yves e seu marido Pierre Bergé, que no filme é interpetado por Guillaume Gallienne.



Candy

Sinopse: Candy (Abbie Cornish) é uma jovem e talentosa pintora, enquanto que Dan (Heath Ledger) é um promissor poeta. Eles se apaixonam assim que se conhecem, divindo também a dependência por heroína. De início Candy e Dan sentem viver no paraíso, mas a falta de dinheiro faz com que eles retornem à realidade. Candy torna-se prostituta, com o consentimento de Dan. Para afirmar sua união eles decidem se casar, mas a dependência das drogas afeta cada vez mais sua felicidade. Até que Candy, cansada de viver no caos, decide se internar em uma clínica de reabilitação e largar de vez as drogas. Só que ela não esperava a reação que sua atitude provocaria em Dan.
Impressões: O filme australiano dirigido por Neil Armfield é um romance dramático. Confesso que vi pelo maravilhoso Heath Ledger e não pela sinopse ou trailer. A história não nos apresenta nada de novo sobre ou universo dos dependentes químicos. Em síntese, fazem de tudo para conseguir comprar drogas: de venda de objetos à prostituição.
Temos dois artistas, ou seja, duas pessoas sensíveis que desejam mas não conseguiram viver da arte.  Na verdade, o vício anula a vontade de tentar. Uma pintora e um poeta presos numa vida caótica e de perdas. Ambos têm problemas com os pais, mas o filme não explora muito o universo familiar deles, principalmente o de Dan. Senti que faltou essa informação no longa. Ótimas atuações. Abbie Cornish foi muito melhor no papel de dependente químico que Heath Ledger.


Um beijo
Renata Ferreira



quinta-feira, 9 de julho de 2015

Leitores Famosos: a leitora Marilyn Monroe e o poema de António Ramos Rosa

A leitora abre o espaço num sopro subtil.
Lê na violência e no espanto da brancura.
Principia apaixonada, de surpresa em surpresa.
Ilumina e inunda e dissemina de arco em arco.
               Ela fala com as pedras do livro, com as sílabas da sombra.         


Ela adere à matéria porosa, à madeira do vento.
Desce pelos bosques como uma menina descalça.
Aproxima-se das praias onde o corpo se eleva
em chama de água. Na imaculada superfície
ou na espessura latejante, despe-se das formas,


branca no ar. É um torvelinho harmonioso,
um pássaro suspenso. A terra ergue-se inteira
na sede obscura de palavras verticais.
A água move-se até ao seu princípio puro.
O poema é um arbusto que não cessa de tremer.














Poema de António Ramos Rosa, in "Volante Verde" 

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Alexander Yakovlev: a poesia corporal captada no instante fotográfico


Fotografia e Dança são amores antigos. Ver um trabalho cuja união da segunda e da oitava arte se completam me dá um prazer inenarrável. Um desejo de compartilhar minhas impressões singelas e descobertas com todos. Contagiá-los, ou melhor tentar, já que é impossível escrever o que sentimos. No que concerne à arte, então, é mais complicado ainda. Não há teoria da arte que traduza uma experiência estética.
O fotógrafo russo Alexander Yakovlev conseguiu unir a Fotografia e a Dança de forma rica e singular, num ensaio fotográfico brilhante. Registrou movimentos, que nos palcos são executados com rapidez e com uma sutiliza ímpar, própria dos deuses bailarinos.  Às vezes, são tão rápidos que nosso olhar não capta toda a beleza e perfeição desses corpos que são verdadeiras obras de arte.
Dança e fotografia são para mim poesia pura, enquanto aquela é um poema registrado em cada movimento [poesia corporal], esta é a experiência poética do olhar e do coração registrada numa imagem.
A dança assim como a poesia ultrapassa a fronteira da expressão artística. Há um poema do maravilhoso Carlos Drummond de Andrade cujos versos tentam externar o que é a dança. O poema é intitulado A dança e a alma, e cabe perfeitamente na minha tentativa de expor meus sentimentos.


A dança? Não é movimento

súbito gesto musical

É concentração, num momento,
da humana graça natural

No solo não, no éter pairamos,
nele amaríamos ficar.
A dança- não vento nos ramos
seiva, força, perene estar
um estar entre céu e chão,
novo domínio conquistado,
onde busque nossa paixão 
libertar-se por todo lado...

Onde a alma possa descrever
suas mais divinas parábolas
sem fugir a forma do ser
por sobre o mistério das fábulas


E o que dizer da fotografia. Melhor não dizê-la. Permita-se senti-la. Admire e agradeça aos fotógrafos que fotografam com o coração e a com alma. Bresson estava mais do que certo quando disse que “Fotografar é colocar na mesma linha de mira, a cabeça, o olho e o coração”. Enxergar com o coração e clicar é divino, olhar para uma fotografia e sentir a imagem, o fotógrafo e o instante, é ser humano. Sejamos, humanos.

Voilà as imagens! 













Quer conhecer mais sobre o trabalho do fotógrafo Alexander Yakovlev?  acesse o site ayakovlev.comFacebook

Espero que tenham gostado
Um Abraço!|
Renata Ferreira