domingo, 28 de dezembro de 2014

Il pleut (Está chovendo), de Guillaume Apollinaire:

“Chovem vozes de mulheres como se estivessem mortas mesmo na recordação. Chovem também vocês maravilhosos encontros de minha vida ó gotinhas, e estas nuvens empinadas se põem a relinchar todo um universo de cidades minúsculas. Escuta se chove enquanto a mágoa e o desdém choram uma antiga música. Escuta caírem os laços que te retém embaixo e em cima.”

sábado, 15 de novembro de 2014

Deusa Má e a performance vilanesca



Não me recordo de um texto fictício que narre a história de uma senhorinha que ao ficar desempregada tenta matar a patroa. Você lembra?
A realidade já é tão rica no quesito criatividade e perversidade que o pobre autor fica sem recursos para uma história marcada pela originalidade.
A cozinheira que ao ser presa, posou para os jornalistas e até mandou um “beijinho no ombro” vai muito além do que nossa imaginação.  
Nossa personagem real Deusamar de Jesus Lima Rodrigues foi presa, nesta sexta-feira (14), suspeita de envenenar a patroa. Segundo a polícia, ela confessou que envenenou a ex-prefeita de Nova Iguaçu, Sheila Gama, com chumbinho.
Fico imaginando essa senhorinha sentada em frente à TV, vendo um filme ou uma novela, ou qualquer obra fictícia que a inspirou. Mas, deixo esse pensamento e prefiro acreditar que ela imaginou tudo sozinha.
Ao saber que ia ficar desempregada e de tanto ouvir reclamações da patroa, pensou numa vingança macabra, e põe macabra nisso, deixou de ser a Deusamar e se tornou a Deusa MÁ.
Imaginem:
Uma senhora trabalhando numa casa pouco mais de um ano. Uma patroa exigente com os serviços domésticos e reclamando do trabalho da empregada diariamente. O ódio em ouvir cobranças e reclamações. O nascimento da vilã e o plano maléfico.
Imaginou?
Agora a cena:
A patroa tomava remédios regularmente e a Deusa Má em sua performance vilanesca trocou o conteúdo das cápsulas do remédio por chumbinho. E como uma vilã no início de carreira esqueceu os fracos do veneno em seu quarto.
Sheila foi internada e está mal à beça, chegou no hospital vomitando e com intensas dores abdominais. Precisou ser entubada, pois teve uma parada cardíaca. Ao que tudo indica, nossa vilã Deusa Má não teve sucesso, Sheila não morreu, mas seu quadro de saúde inspira cuidados.
Calma aí “Deusa Má”, sabemos que perder o emprego não é fácil. Diante da realidade do nosso país, já dá para imaginar o desespero. Sabemos que escutar críticas todos os dias também não.  Mas, uma vingança, uma tentativa de homicídio seguida de fuga:  é você entrou para a lista das velhinhas criminosas. E como toda vilã, teve seu momento de fama. Agora responda, aquele Beijinho no Ombro fazia parte da performance? É aquele V de vitória, seria na verdade o V de vingança?





Fotos: André Mourão/ Agência O Dia.


Texto: Renata Foli





terça-feira, 28 de outubro de 2014

A entrevista que não aconteceu / O último trem/ O último livro / para Lu


A entrevista que não aconteceu estava marcada num local que ele amava, uma biblioteca. Ele, com seus olhos esverdeados vermelhos, não enxergava mais os trilhos da vida, apenas vagava pelas ruas sem pensamentos, e quando os tinha, doía até a alma: abandono, tragédia, morte, perda, desilusões, solidão, desespero, fraqueza. O remédio que escolheu para findar com a mente era barato, conseguia em qualquer esquina ou becos da cidade.
Fugiu sem olhar para trás; deixou filhos, amigos, família, ideais. Transformou-se noutro, perdeu a cor, perdeu a casa, perdeu os sentidos; agora um morador de rua.  E como vagar era sua sina, vagou de SP para ES acompanhado das drogas e da Dor. Foram muitos anos assim, nada aconteceu; dizem por aí que Deus protege.
Vagou do ES para o Rio, cidade de sol, de mar, mas de violência e de tristezas; cidade das oportunidades, mas também do descaso, do preconceito e da humilhação.
Ao chegar aqui, conheceu um espaço que considerou mágico: uma biblioteca. Lá, viciou-se noutra coisa: a leitura. Lia compulsivamente e chamava atenção. Para muitos, era o mendigão que passava o tempo lendo, para outros, um homem recuperando sua mente, seus sentidos, sua vida.
Tomou a decisão que merecia, que precisava...
Fez amizades, transformou olhares, consumia menos drogas, lia mais livros (adorava Agatha Christie), voltou a ter prazer, voltou a ter esperança; desejou um emprego, um local para chamar de seu e reconquistar sua família.
Conseguiu ajuda, afinal lutar contra drogas não é fácil. Mas, ele venceu. Perdeu o medo e encarou uma internação. Alguns meses numa instituição com um único desejo: recuperar-se
 Aprendeu muitas coisas, dentre elas uma profissão e a sonhar com dias melhores.  Falava empolgado do processo de aprendizagem e desintoxicação.
O homem agora tinha face, cor, expressão, mas que isso tinha brilho nos olhos. Tudo pronto para receber alta:  emprego, salário, possibilidade de pagar por um lar, dignidade.
Primeiro dia de trabalho: eis o corpo que levanta, eis a mente que raciocina, eis a esperança que renasce, mas na estação de trem há viagens que não tem volta... vida por um triz...última história: a própria.
A realidade trilha caminhos que nunca poderemos imaginar, e quando menos esperamos nossa história é interrompida, e somos esmagados pelos trens da vida cujos vagões são intermináveis e pesados demais para suportar. Adeus Lu.


Renata Foli


sábado, 20 de setembro de 2014

Ciclo de palestras: Dramaturgia Poéticas Políticas.

A partir deste sábado(20), às 16h, a Biblioteca Parque Estadual receberá ilustres nomes do teatro nacional que apresentarão o ciclo de palestras Dramaturgia Poéticas Políticas. 
A estreia conta com a participação do dramaturgo Sérgio de Carvalho (Diretor, autor e crítico; encenador voltado aos recursos épicos do espetáculo e um dos fundadores da Companhia do Latão) que discutirá as Formas da Dramaturgia Brasileira nos anos 60.
Serão quatro encontros que propõem uma imersão no universo do teatro épico, vertente mais política e social das artes cênicas. A segunda palestra(27) será com dramaturgo Lauro César Muniz que falará sobre “o teatro, a TV e os comunistas do Dr. Roberto”. A terceira (11/10) será comandada por Aimar Labaki, e fechando o ciclo de palestras(29/11) o dramaturgo Aderbal Freire Filho.
Entrada Franca com distribuição de ingressos 1h antes das palestras.

Serviço

Biblioteca Parque Estadual(BPE)
De terça a domingo, das 10h às 20h.
Av. Presidente Vargas, 1261 – Centro • Rio de Janeiro, 20071-004
Telefone: (21) 2332-7225
http://www.bibliotecasparque.org.br


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Alma, deixa eu ver sua alma



Ainda não era inverno. O vento gelado a despertou. Começou seu passeio pelas ruas do bairro: descalça, pijama, pensamentos. Queria calor humano. Primeira esquina: crianças, cola, sonhos perdidos. Sentou-se. Eles não estavam lá, eram apenas delírios, desejos, vozes incompreensíveis, mas sentia o calor, calor que invadiu seu corpo e derreteu sua alma. Corpo aquecido, rumo à segunda parada: Banquete dos moradores de rua. Ouviu uma música,  e guiada pelo som foi parar num beco sem saída. Evangélicos, culto, homens desesperados de fome. Sentou-se. Os mendigos não estavam lá, eram só pensamentos: Comer pão com mortadela no fim do culto, ganhar roupa quentinha, cobertor, escolher a melhor ponte, forrar o papelão e desfrutar dos presentinhos. Frio na espinha. Lembrou-se do poema que leu aos onze anos. “O Bicho”. Manoel Bandeira.
“Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”
Saiu do beco, voltou para a rua principal. Fazia duas horas que estava caminhado.  Cansaço. Sentou-se. Voltou a sentir frio. Decidiu correr. Cruzamento. Encruzilhada. O bicho não era uma galinha preta, era um homem: ensopado de sangue, aberto, vísceras expostas, sofrimento. Ela sentada, descalça, pijama, mas mudou seus pensamentos, pensava a realidade. Ela não tinha mais forças para negar tudo que estava diante dos olhos, tudo que via da janela. Voltando para casa, briga de moradores de rua na porta de seu lindo prédio: cacos de vidros, sangue. Tentou ajudá-los, pisou nos cacos, furou seu pé de bailarina. Percebeu que “a realidade vai além da sua linda imaginação”. Poça de sangue: Deles, na porta do prédio, dela na cama. Pela manhã: não sentia mais frio, mas seu corpo estava gelado debaixo dos lençóis. Sua alma não voltou.

Renata Foli

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Alérgicos: Um sebo para chamar de seu.



Amar livros significa amar a casa deles, ou não. Dependendo do livro, você o encontrará numa grande ou pequena livraria, ou num sebo.  Num lugar limpinho ou empoeirado.  O fato é que os alérgicos, como eu, sofrem quando optam pelo sebo. Já desisti de entrar em muitos sebos, pois tinha tanta poeira e mau cheiro que meu espirro era despertado na entrada. Por que os sebos não se despem desse padrão?
Sei que há diversas lojas on-line, mas prefiro visitá-los em suas estantes, encontrá-los assim ao acaso, como um amigo que não via há muito tempo ou um novo amigo, que fazemos por essas estradas sinuosas.
Já tinha desistido dos sebos do centro da cidade do Rio de Janeiro, quando me deparei com o “Letra Viva”. Lugarzinho charmoso, limpinho, organizado, com um café ótimo (Caffè Olé) cuja  torta de maça é divina.


O “Letra Viva” fica situado num local(Rua Luís de Camões, nº 10) cujos prédios vizinhos são lindos, culturais e importantes, como: Real Gabinete Português de Leitura, o Centro Cultural Hélio Oiticica, IFICS, Largo das Artes...

O acervo é bem amplo. Aproveitei para comprar dois livros e uma revista:


vale à pena visitar. Segue algumas fotinhas para despertar curiosidade.





(site: Letra Viva)

Renata Ferreira

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Pais preguiçosos e hipócritas =Crianças prejudicadas



Trabalhando em biblioteca e livrarias pude perceber o quanto esses espaços não são explorados pelas famílias. Uma infinidade de livros, temáticas "empoeirados" nas estantes. Literatura, Economia, Política, Educação, Ética, Religião, Preconceito...São tantos os assuntos que poderiam ser discutidos após uma simples leitura que não caberiam nesse texto. 
 Além dos livros, uma série de atividades educacionais (teatro infantil, contação de histórias, atividades gratuitas) que poderiam ser descobertas e vividas, mas não há público. Onde estão esses pais e filhos? Eu respondo: Num sofá assistindo aquela novelinha, ou ainda, com a cara no celular ou computador.
Já ouvi muitos pais dizendo coisas do tipo: “Não estudei muito, logo não posso ajudá-los”. “Não tenho tempo, preciso trabalhar”.  “Ele é inteligente, se vira sozinho”. Sei que muitos desses pais são hipócritas, que só sabem reclamar e nada fazem para ajudar seus filhos, e a si próprio; fingem acreditar que a escola será o suficiente. Alguns desses pais pararam de estudar há anos, tiveram a oportunidade de voltar mas não quiseram; outros, se acham velhos demais. O fato é que reclamam, reclamam, reclamam, e não fazem nada para mudar a situação familiar.  Pais preguiçosos que não leem mas querem que o filho seja doutor (Não estou falando aqui de pessoas analfabetas, que não tiveram oportunidade nenhuma, e desejam coisas boas para os filhos; estou falando de hipocrisia. De pessoas que não fazem nada, não são exemplos para os filhos, e inventam qualquer desculpa esfarrapada para justificar sua situação).
Dia desses atendi uma pessoa que estava conhecendo a biblioteca pela primeira vez, inicialmente fiquei feliz, pois ela estava com os filhos. Logo, expliquei sobre os espaços infantis e infanto-juvenis, e sobre os diversos livros que os filhos e ela teriam acesso.  E ainda tinha teatro e filmes. Ela me cortou dizendo que estava lá, porque tinha internet liberada, e tanto os filhos quanto ela adoravam facebook. Expliquei que poderia acessar, mas seria perfeito se destinasse algumas horas para ler com os filhos e os incentivassem  à leitura. Ela disse: Eles nãos gostam, e eu também não.
Reclama-se tanto da realidade do nosso país: crianças e adolescentes que não leem; adultos que não tem senso crítico e são alienados; escolas que não formam pensadores e sim reprodutores de discursos etc. Eu vos pergunto:  O que você família, pais, tios, padrinhos estão fazendo para que suas crianças não se tornem adultos alienados, cegos, ignorantes e reprodutores de discursos?
Encontro muitos usando a desculpa que não possuem dinheiro, e por isso não compram livros e não incentivam à leitura, e completam dizendo que a escola faz isso. Acorde, não é novidade: Vivemos num país de injustiças, não há investimento no ensino público, muito menos nos professores. Não espere sentado no seu sofá, vendo sua novelinha preferida ou seu jogo de foot , que seu filho sairá da escola um gênio argumentador e empreendedor, Isso é para poucos. Se não tem dinheiro para comprar, vá até uma biblioteca pública. Você não precisa de grana para frequentar uma livraria. Há diversas livrarias com espaços infantis lindos, que aceitam sua visita; você poderá ir, sentar com seus filhos e ler um livro.
Então, acorde e aprenda a ser pai e mãe, aprenda a cuidar dos seus filhos. Cuidado não é apenas colocar comida no prato. Se não estudou, comece agora. Se não lê, comece. Largue sua TV e vá estudar com seu filho, aprenderá e relembrará muitas coisas. Incentive-os a fazer coisas boas e interessantes para a mente. Não adianta você deixa-lo jogar bola durante horas e horas se nem o exercício da escola ele faz. Admita:  você quer  descansar, e arruma qualquer atividade para seu filho fazer que o distraia, e não te perturbe.

Tome vergonha na cara, deixe a preguiça, e vá até escola do seu filho, compareça as reuniões, averigue o conteúdo que ele estuda; abra a mochila dele, e descubra o que está estudando, como o professor aborda o conteúdo, se não ficar satisfeito, reclame, ou melhor, ensine coisas novas. Se não sabe, procure alguém da família que saiba, um amigo... corra.... Tire seu bumbum do sofá, depois  não adianta reclamar. Fica a dica. 

Renata Ferreira

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

SUICÍDIO E MÍDIA: ROBIN WILLIAMS

O suicídio é um tema que desperta um misto de fascínio e terror, pois configura um enigma, um fenômeno incompreensível, por se tratar de agressão fatal ao próprio indivíduo. A aparente falta de sentido leva a reflexões diversas: sociológicas, psicológicas, filosóficas, religiosas, numa tentativa de compreensão, porém, ao mesmo tempo, se quer fugir do assunto tabu em nossa sociedade, o Vazio indiscernível em torno da morte obriga o pensamento a uma busca de sentido onde se esgotou o sentido:
Sem poder pensar na morte, parece que nos restam apenas duas soluções: ou bem pensar sobre a morte, em torno da morte, a propósito da morte, ou bem pensar em outra coisa que não a morte, e, por exemplo, a vida.  (JANKÉLÉVITCH: 1966, p.34)[1]

O suicídio tem um pequeno espaço na mídia, salvo os casos de pessoas que são “conhecidas” pela população, cuja notícia é inevitável. Neste caso, deveríamos ter a notícia desprovida de detalhes. A omissão dos detalhes evitaria a ocorrência de novos casos.
 Já foi comprovado que notícias veiculadas na mídia estimulariam pessoas depressivas a cometerem suicídio. O Dr. J. M. Bertolote, especialista em Distúrbios Mentais (Organização Mundial de Saúde) elaborou um documento preocupado com o grande número de suicídios motivados pela mídia, direcionado à todos os profissionais de comunicação.

A mídia possui um papel importante na sociedade contemporânea fornecendo uma vasta gama de informações de formas diversas. Influenciam fortemente as atitudes, crenças e comportamentos nas comunidades, e têm um papel importante na prática política, econômica e social. Devido a esta influência, a mídia pode também possuir um importante papel na prevenção do suicídio.[2]

              Com a morte de Robin Willians, averiguamos tudo que a mídia deveria evitar: uma enxurrada de reportagens sem cuidado, sem ética e sem respeito . Compreendemos a necessidade de informações quando morre alguém tão querido, como o ator. Mas, é bizarro perceber os rumos das informações, dos péssimos jornalistas e pseudo-jornalistas que temos, principalmente na internet.
               Não vi reportagens que aproveitassem a situação para esclarecer a população sobre algo, que segundo pesquisas, é atualmente uma das três principais causas de morte. Há tempos, o jornalismo perdeu sua função social, não deveria estar na cadeira de comunicação social. Hoje o objetivo é apenas entretenimento.

             Explorando a temática
Segundo Durkheim, no capítulo Do suicídio como fenômeno social em geral, temos que analisar a situação exterior em que se encontra colocado o agente. Os homens que se matam tanto podem ter sofrido desgostos familiares ou decepções de amor-próprio, como podem ter passado pela miséria ou pela doença etc. O autor afirma que os fatos mais diversos e mesmo os mais contraditórios da vida podem servir igualmente de pretexto para o suicídio.
 Na temática do suicídio Durkheim nos chama atenção para os seguintes fatores, primeiro, a natureza dos indivíduos que compõem a sociedade; segundo, a maneira como estão associados, ou seja, a natureza da organização social; terceiro, os acontecimentos passageiros que perturbam o funcionamento da vida coletiva. Portanto, só as características gerais da humanidade são suscetíveis de provocarem algum efeito. Para o autor há três tipos de suicida:
·         Suicida egoísta. A pessoa se mata para não sofrer mais;
·         Suicida altruísta. A pessoa se mata para não dar trabalho aos outros (geralmente pessoas de idade);
·         Suicida anômico. A pessoa se mata por causa dos desequilíbrios de ordem econômica e social.
             Não é minha intenção, fazer uma análise completa do livro ou citá-lo em detalhes, mas sim despertar o interesse nas pessoas que lessem meu modesto texto. Há milhares de pessoas depressivas ao nosso lado, seja parente ou amigo, colega de trabalho ou faculdade, que poderiam cometer suicídio a qualquer momento. É como poderíamos ajudar estas pessoas? Não sei. Mas se cada jornalista, blogueiro, artista ou não compreendesse a dimensão dessa causa morte, aproveitaria seu espaço nas mídias em geral, para produzirem textos que cumprissem melhor o papel social.

Dados para ir além (Texto abaixo foi retirado do site ABC da saúde, na seção psiquiatria):
SUICÍDIO: A palavra suicídio (etimologicamente sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines, em 1737 e significa morte intencional auto-inflingida, isto é, quando a pessoa, por desejo de escapar de uma situação de sofrimento intenso, decide tirar sua própria vida.
De acordo com dados atuais da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 3.000 pessoas por dia cometem suicídio no mundo, o que significa que a cada 30 segundos uma pessoa se mata. Estima-se que para cada pessoa que consegue se suicidar, 20 ou mais tentam sem sucesso e que a maioria dos mais de 1,1 milhão de suicídios a cada ano poderia ser prevista e evitada.
O suicídio é atualmente uma das três principais causas de morte entre os jovens e adultos de 15 a 34 anos, embora a maioria dos casos aconteça entre pessoas de mais de 60 anos. Ainda conforme informações da OMS, a média de suicídios aumentou 60% nos últimos 50 anos, em particular nos países em desenvolvimento. Cada suicídio ou tentativa provoca uma devastação emocional entre parentes e amigos, causando um impacto que pode perdurar por muitos anos.
Probabilidades
Através da observação dos casos de suicídios, pode-se constatar que há certos fatores que estão relacionados a uma maior ou menor probabilidade de cometer o suicídio. Por exemplo, as mulheres tentam o suicídio 4 vezes mais que os homens, mas os homens o cometem (isto é, morrem devido a tentativa) 3 vezes mais do que as mulheres. Isso se explica pelo fato de os homens utilizarem métodos mais agressivos e potencialmente letais nas tentativas, tais como armas de fogo ou enforcamento, ao passo que as mulheres tentam suicídio com métodos menos agressivos e assim com maior chance de serem ineficazes, como tomar remédios ou venenos.
Doenças físicas, tais como câncer, epilepsia e AIDS ou doenças mentais, como alcoolismo, depressão e esquizofrenia, são fatores relacionados a taxas mais altas de suicídio. Além disso, uma pessoa que já tentou cometer o suicídio anteriormente tem maior risco de cometê-lo. A idade também está relacionada às taxas de suicídio, sendo que a maioria dos suicídios ocorre na faixa dos 15 aos 44 anos..
Motivos: As pessoas podem tentar ou cometer suicídio por diversos motivos.

·         numa tentativa de se livrarem de uma situação de extrema aflição, para a qual acham que não há solução;
·         por estarem num estado psicótico, isto é, fora da realidade;
·         por se acharem perseguidas, sem alternativa de fuga;
·         por se acharem deprimidas, achando que a vida não vale a pena;
·         por terem uma doença física incurável e se acharem desesperançados com sua situação;
·         por serem portadores de um transtorno de personalidade e atentarem contra a vida num impulso de raiva ou para chamar a atenção.
Indicadores de Risco
O suicídio é algo que, em geral não pode ser previsto, mas existem alguns sinais indicadores de risco, e eles são:
·         tentativa anterior ou fantasias de suicídio,
·         disponibilidade de meios para o suicídio,
·         ideias de suicídio abertamente faladas,
·         preparação de um testamento,
·         luto pela perda de alguém próximo,
·         história de suicídio na família,
·         pessimismo ou falta de esperança, entre outras.
Pessoas que apresentem tais indicadores devem ser observadas mais atentamente. Entretanto não se pode ter certeza alguma a respeito pois a ideia de morrer pode mudar na mente da pessoa, de um momento para outro.
Como encaminhar quem está com risco de suicídio
Quando a preocupação a respeito de um risco de suicídio ocorrer em relação a uma pessoa, esta deve ser encaminhada a uma avaliação psiquiátrica, em emergências de hospitais que trabalhem com psiquiatria, para que se possa avaliar adequadamente o risco e oferecer um tratamento para essa pessoa.
Esse tratamento poderá ser uma internação, quando for avaliado que o risco é muito grave, ou tratamento ambulatorial (consultas regulares com psiquiatra), ocasião em que é feita uma avaliação das circunstâncias da vida da pessoa, se ela tem uma família que possa estar presente, observando-a e fornecendo-lhe suporte, e à qual, ela própria, apesar da vontade de se matar, possa comunicar isso e pedir ajuda antes de cometer o ato.
Quando alguém estiver pensando em cometer suicídio é importante comunicar essa ideia para que outros possam ajudá-lo, pois quem está se sentindo tão mal a ponto de pensar que a morte é sua única saída, com certeza precisará de ajuda para sair dessa.

Renata Ferreira

           

Bibliografia
DURKHEIM, Émile. O suicídio. Os pensadores: Abril cultural
JANKELEVICH, Jan. La Mort. Paris:Flamarion, 1966.
http://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/suicidio





[1] Faute de penser la mort, il ne nous reste, semble-t-il que deux solutions: ou bien penser sur la mort, autour de la mort, à propos de la mort, ou bien penser à láutre chose qu´à la mort, et par exemple à l avie”

[2] Informação retirada do artigo : O suicídio motivado pela  mídia, publicado no site : http://manassesqueiroz.blogspot.com/2005/12/o-suicdio-motivado-pela-mdia.html

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Eu, um poema inacabado.



Eu, um poema inacabado.
                                      Dum poeta esquizofrênico                                      
Quero ser lido por você

Eu, um poema indefinível
Com letra borrada e tremida
Quero ser entendido por você

Eu, que não tenho época nem estilo
Rima ou destino
Quero ser musicado por você

 Eu, exilado noutra língua
Com erros de ortografia
Quero ser traduzido por você

Indefinir para alcançar
Indefinido sou
Resta-me num papel esperar.

a melodia, a música,  a voz
sua (re) leitura...

Renata Foli

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Minhas impressões: Banksy – Guerra e Spray


  "Não dá para superar esse sentimento "

A leitura de imagens sempre me agradou; não tenho conhecimentos teóricos sobre arte pictórica, mas acredito que a experiência estética vai muito além de qualquer teoria. Poder olhar para uma imagem e perceber as diversas sensações, significações e rumos que ela pode tomar e nos proporcionar , fascina-me.
Confesso que as leituras mais formais como cores, formas etc; ou ainda temática, é o que menos importa para mim. O que me encanta é a relação que posso ter com a obra, as minhas reações, o que a obra me faz sentir; a relação com o meu mundo, com minhas experiências, com minhas conexões. E nessa leitura, a pessoal, que indico, o livro “BANKSY – GUERRA E SPRAY”.
O livro foi publicado, aqui no Brasil, pela editora Intrínseca, em 2012.  Sabemos que os livros de arte são praticamente inacessíveis; as publicações são apreciadas por um pequeno grupo, como: estudante de arte e professores; artistas; bibliófilos, ou seja, um grupo reduzido. Os preços são exorbitantes, afastando alguns leitores. Acredito que a editora Intrínseca teve como objetivo introduzir o público a obra de Banksy, proporcionando a oportunidade de termos um livro riquíssimo e acessível.

FICHA TÉCNICA
  • ISBN: 978-85-8057-258-2
  • Tradução: Rogério Durst
  • Lançamento: 2012-10-20
  • Páginas: 240
  • Formato: 21 x 26
  • Gênero: Séries

Sinopse: Ninguém sabe quem é Banksy, o artista do estêncil e do spray que tem deixado a marca de sua irreverência em paredes de cidades do mundo inteiro, de Londres à Palestina. Sabe-se apenas que teria nascido em Bristol, no sul da Inglaterra, onde iniciou suas atividades. A obra de Banksy, porém, é inconfundível: ratos de guarda-chuva, macacos ameaçando dominar o mundo, inusitados sinais de trânsito e comentários mordazes sobre a sociedade contemporânea, o consumismo, as guerras e o conformismo. Sua arte em grafite ganhou fãs em toda parte, é amplamente reproduzida pela internet e já foi vendida por mais de 50 mil libras em leilões. Guerra e spray reúne o melhor de seus trabalhos e expõe alguns de seus pensamentos nas palavras do próprio Banksy. Além das obras criadas para as ruas, o livro inclui também intervenções que o artista fez em locais privados, como museus de Nova York e o zoológico de Barcelona.

Minhas impressões: Dos muros para o papel.
O grafite é uma manifestação artística. Com sua linguagem de protesto e de resistência tornou-se universal.  Conquistou diversos espaços: Dos muros para os livros; da roda de grafiteiros para a roda acadêmica, do preconceito para aceitação e respeito. Em Banksy – Guerra e Spray nos deparamos com uma variedade de imagens que revelam-se como personagens marcantes, associadas a críticas inesquecíveis.
Nos grafites e performances do artista tudo adquire alma, e é registrado de forma singular: o cenário urbano ou rural; os museus ou zoológicos; os macacos e os ratos ... Tudo possui uma alma questionadora e nos provoca. Banksy imprime em sua obra um toque inconfundível. Temos 240 páginas entre imagens e textos singulares.
Segundo Banksy, ao contrário do que dizem por aí, o grafite não é a mais baixa forma de arte. Grafitar é, na verdade, uma das mais honestas formas de arte disponíveis. Não existe estilismo ou badalação, o grafite fica exposto nos melhores muros e paredes que a cidade tem a oferecer e ninguém fica de fora por causa do preço do ingresso. Para o artista, quem desfigura nossos bairros são as empresas que rabiscam slogans gigantes em prédios e ônibus tentando fazer que nos sintamos inadequados se não comprarmos seus produtos. Essas empresas acreditam ter o direito de gritar sua mensagem na cara de todo o mundo, sem que ninguém tenha o direito de resposta. O artista finaliza o texto, dizendo que as empresas começaram a briga e a parede é a arma escolhida para revidar.
O artista é bem irônico e sarcástico; há muitas críticas ácidas no livro, mas citarei três que aprecio bastante, e que se repetem . A primeira é contra policias e seu autoritarismo. Segundo o artista, Policiais e seguranças usam quepes com abas sobre os olhos por motivos psicológicos. Aparentemente, sobrancelhas são muito expressivas e cobri-las torna sua aparência mais autoritária. Em compensação, é mais difícil para os agentes da lei perceber qualquer coisa que aconteça a mais de dois metros acima do solo, o que torna bem mais fácil grafitar telhados e pontes.
A segunda são pinturas vandalizadas. Numa série de obras conhecidas, Banksy brinca com releituras.
“Se você quer sobreviver como grafiteiro num ambiente fechado, me parece que sua única opção é pintar sobre coisas que não lhe pertençam”.

Na releitura de Girassóis, Van gogh, temos “Girassóis do posto de gasolina”. 
Já em Le pont de Giverny, Claude Monet, temos “Me mostre o monet”.
A terceira crítica que me toca é a da fome, pobreza e capitalismo. Em “Burger King”, por exemplo, temos uma criança com a coroa da rede fast-food com um prato de comida vazio.

 Outra obra polêmica, nessa temática, é a montagem com a foto de Kim Phuc, nessa a criança está de mãos dadas a Mickey e Ronald Mc Donalds. Poderia ficar horas citando as imagens do livro, mas convido-os a terem a sua experiência com Bansky.


Renata Ferreira

quarta-feira, 16 de julho de 2014

O Amor nos tempos verbais de cada um – por Ronny Laeber


Não importa a palavra nessa corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde emerge a graça do amor, a cegueira da paixão. E o escuro onde nasce a solidão, a angústia, a saudade, a lágrima e o afago.
 Essa incompreensível forma que me sustenta o coração. Que nutre os sentidos e os sentimentos. Quem é que entende a linguagem surda-muda do coração, haverá de saber também, que amor é um verbo transitivo direto e que, a palavra, é disfarce da coisa mais grave que inventamos para ser calada em momento de grande prazer.
E sobre um mar, dicionário, gramática aplicada, quem frequentá-las, poderá apanhá-las, palavras, com a mão, um peixe vivo, por um susto terror e inconsciente.
 Esses tantos verbos, adjetivos, consoantes, construídas, constituídas, seguem deixando seu rastro por onde passam, seja nas nossas vidas, nossas vias, avenidas que vão ficando para trás. Nessa nossa vida, nos enlaçam, nos consomem e nos castigam. Agride-nos e nos dá carinho, nos amam e no deixa em desamor e enfim, por si só, perdidos num emaranhado de frases duvidosas quando o amor nos agarra de jeito e então, deixa a saudade brotar junto a tantas vírgulas e interrogações.
  E é perdido num livro que tento entender o que há com tantos corações agora. Posto que, sem amor, tudo é silêncio. Tudo são palavras silenciosas, palavras escritas, meramente escritas em caderno de caligrafia, vogal matinal, temática, que nos acorda e nos consola na correria cotidiana, pois estamos aprendendo a todo instante conviver com este sentimento composto ou mesmo o procurando.
No entanto, assim, não percebemos o tempo esvair-se, se conjugando, mas há tantos sentidos, há tantas formas, deste modo, ainda assim, estas palavras são poucas pra dizer o quanto somos gramática incompreensível.


Todavia, é notório de que precisamos de um céu pra voar, de ruas pra correr, de mares pra navegar, de que necessitamos de poesia pra viver, nessas horas fugidias em que nos encontramos nos braços de alguém ou simplesmente procuramos, em verso e prosa, em frase perfeita, onde nos achamos e nos perdemos, vivendo entre o certo e o duvidoso, buscando sempre a melhor coesão. E como já dizia na canção de Chico Buarque, “saiba que os poetas como os cegos podem ver na escuridão.” É como poetas ou como cegos que na escuridão seguimos vendo, revendo, inventando e reinventando, trazendo mais pra perto o amor no tempo verbal de cada um, em uma carta, um livro ou um cartão postal passamos estar em todas as classes gramaticais buscando um jeito de conquistar, de trazer, para uma conjugação, um verbo amor sem fim.